Você sabe a diferença entre os termos desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ambiental? Percebe-se que existe uma certa confusão no entendimento dos termos, e, ainda, que são, muitas vezes, tratados como sinônimos.
O desenvolvimento sustentável é um conceito amplamente discutido e possui um vínculo bastante forte com os discursos de vários setores da sociedade, tais como: educacional, político e o publicitário. A inclusão do termo “sustentável” ao “desenvolvimento” tem o objetivo de limitar as ações do segundo (desenvolvimento), estabelecendo, assim, a harmonia entre o desenvolvimento econômico e produção capitalista, com a manutenção dos ecossistemas.
A sustentabilidade, por sua vez, prioriza a busca melhoria da qualidade de vida humana e a capacidade suporte do planeta Terra, tentando mantê-los em equilíbrio. Assim, a sustentabilidade não está associada ao termo desenvolvimento, porém considera fontes alternativas e ambientalmente corretas de energia e produção, assim como, que essas fontes alternativas possam ser justas em relação a escala social para a construção da sociedade melhor.
A principal diferença entre os termos está na questão do termo associado a sustentabilidade – “desenvolvimento” – uma vez que não é possível manter o padrão de consumo e econômico atual de forma sustentável sem atingir a capacidade suporte do planeta. Contudo, ambos os discursos defendem o uso de tecnologias alternativas para a diminuição dos impactos ambientais.
Entretanto, torna-se necessário realizar uma breve análise em relação aos termos. Iniciaremos com o termo desenvolvimento sustentável, que é conceituação mais discutida, e resulta de ações realizadas em três esferas: ambiental, social e econômico, conforme demonstrado na figura 1. Ou seja, para atingir o desenvolvimento sustentável, torna-se necessário alcançar melhorias na escala social (divisão de rende igualitária, acesso a saúde, escola, moradia com qualidade), melhorias na escala econômica (obter lucro, uso de alternativas de energia) e, também, na escala ambiental (qualidade dos rios, ar, solo, vegetação, conservação das espécies).
Nesse caso, a junção de todos esses fatores seria capaz de proporcionar o desenvolvimento sustentável (figura 1). No entanto, vale salientar que dentro desta relação entre as esferas social, econômica e ambiental, existem outras relações que devem ser levadas em considerações (Figura 2).
Desta forma, se uma das esferas do desenvolvimento sustentável for ignorada, tal fato pode até se concretizar em melhorias entre as ambas as partes, por exemplo a interação da escala social e ambiental (figura 2), essa interação denominada de socioambiental pode acarretar em um acesso igualitário a um padrão de qualidade ambiental, no entanto, como a escala econômica não foi considerada nesta relação, tal modelo de desenvolvimento não pode ser considerado sustentável, pois não atua nas três escalas supracitadas.
Vale salientar, que alguns autores, a exemplo de Silva e Souza-Lima (2011), estão considerando o conceito de desenvolvimento sustentável ainda mais abrangente, agregando ao conceito mais três esferas, além das já existentes, são elas: a esfera democrática, da política e cultural.
Os autores supracitados ainda relatam que o desenvolvimento Sustentável é o meio para sustentabilidade. Só é possível verificá-lo se as pessoas, as organizações e as instituições estiverem envolvidas por um objetivo que direciona seus comportamentos para a sustentabilidade. Desse modo, o desenvolvimento sustentável poderia ser considerado com a teoria por trás da sustentabilidade.
Conforme aborda Startori (2014), a sustentabilidade caracteriza-se como um princípio aplicável à sistemas; sistemas abertos, para interagir com a sociedade-natureza, envolvendo sistemas industriais (transporte, produção, energia, etc.); os sistemas sociais (urbanização, mobilidade, comunicação, etc.). E sistemas naturais (solo, atmosfera, sistemas aquáticos e bióticos, etc.), incluindo os fluxos de informações, bens, materiais, resíduos. Isto é, a sustentabilidade envolve uma interação com sistemas dinâmicos que estão em constante mudança e necessitam de medidas proativas.
Existem alguns desentendimentos em relação aos termos. Há quem diga que será impossível almejar tal modelo de desenvolvimento, uma vez que este depende de uma gama de relação e, por isso, torna-se complexo por si só. E, também, é uma tarefa árdua combater o modelo desenvolvimento adotado atualmente, no qual o objetivo maior é obtenção do lucro.
Vivemos, a nível de Brasil, em um país na qual a esfera econômica se sobressai em relação as demeias esferas. E a nível mundial, presenciamos empresas que tentam se apoderar do conceito de sustentabilidade para gerar novos produtos vendidos como uma solução para a crise ambiental, no entanto, este tipo de atitude, na verdade, se caracteriza como mais uma forma de tirar proveito de uma situação com intuito de obter lucro sobre uma situação que já não é das melhores, mascarando o sistema capitalista de produção.
Referências:
ARTORI, S.; LATRÔNICO, F.; CAMPOS, L. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: uma taxonomia no campo da literatura. Ambiente & Sociedade. São Paulo v. XVII, n. 1, p. 1-22 n jan.- mar. 2014
SILVA, C. L.; SOUZA-LIMA, J. E. Políticas Públicas e Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. Editora Saraiva, 2010.
Autor: Vagner Felix
Doutorando em Engenharia civil com ênfase em Recursos hídricos e Bacharel em Ecologia. Sócio-diretor do Instituto Eidos.