O terceiro setor desempenha historicamente um importante papel na sociedade, tanto como mecanismo social regulador e de vigilância das ações governamentais, bem como executor na prática de atividades voltadas para a proteção dos recursos naturais e da biodiversidade. Mundialmente de forma regulamentada as ONGs surgem no início dos anos de 1960 e no Brasil passam a ser mais disseminadas a partir dos anos de 1980. Com inúmeros resultados importantes garantindo direitos da sociedade determinados na forma da lei que por vezes são ignorados pelo sistema.
Em termos de número e quadro organizacional no Brasil, se destacam as organizações civis do sul e sudeste, entretanto no nordeste podem-se enumerar algumas dessas instituições com projetos de conservação, atuando localmente e/ou em sistema de rede, voltadas para a pesquisa, conservação e educação ambiental, protegendo espécies ameaçadas de extinção, gerando informações técnicas e contribuindo para a formação profissional de estudantes de graduação e pós-graduação.
No Estado da Paraíba, a organização não-governamental: Associação Guajiru: Ciência – Educação – Meio Ambiente, tem respectivamente como missão e visão, as tarefas de contribuir para a proteção da natureza, por meio de elaboração e execução projetos de pesquisa e conservação dos recursos naturais, promovendo continuamente ações de conscientização de forma a imbuir na sociedade os valores de sustentabilidade e desenvolvimento social. Colaborando dessa maneira para o desenvolvimento sustentável com valorização da inclusão social.
Simbolicamente fundada em 20 de março de 2002, com registro oficializado em maio do mesmo ano, a Guajiru desenvolve como carro chefe o Projeto Tartarugas Urbanas, voltado para a proteção e manejo de áreas de reprodução e alimentação de tartarugas marinhas ao longo da costa paraibana.
Todo o trabalho é desenvolvido de forma voluntária envolvendo a comunidade de modo geral, assim, tem seu quadro formado por técnicos que respondem legalmente e coordenam as atividades, estudantes de graduação e pós-graduação, de diversas áreas do conhecimento, destacando os das ciências biológicas e ecologia, turismo e educação e pessoas da comunidade.
O objetivo principal e garantir a permanência do processo reprodutivo em praias impactadas pelo processo de urbanização, que altera atributos naturais desses ecossistemas, impedindo que o ciclo reprodutivo se complete, resultando em poucos anos no desaparecimento da população de tartarugas marinhas desses trechos de praia – cuja consequência afeta a biodiversidade local e a qualidade de vida das populações humanas.
Dessa maneira praias de João Pessoa e Cabedelo são monitoradas diariamente por equipes treinadas para localizar os ninhos, demarca-los e por fim garantir o encaminhamento dos filhotes ao mar. A espécie comum na região é a tartaruga de pente, considerada criticamente ameaçada de extinção, representando um relicto da grande unidade biológica outrora comum no nordeste brasileiro.
Os resultados mais relevantes alcançados nestes 15 anos de atuação são: a proteção de mais cerca de 2 mil ninhos com a soltura de 160 mil filhotes; 15 mil palestras ministradas, atingindo mais de 120 mil pessoas incluindo o público local e pessoas de todas as regiões do país; contribuição direta em 22 monografias de graduação, 4 mestrados e indiretamente 3 doutoramentos em zoologia; publicações em revistas técnicas internacionais e participação em diversos fóruns de discussão sobre meio ambiente nos âmbitos local, regional, nacional e internacional. Destacando que todas as ações são desenvolvidas de forma voluntária obedecendo aos princípios legais e éticos que envolvem a fauna silvestre e seu ambiente.
Rita Mascarenhas
Pós Doutorado em Biologia da Conservação (DCR) Atualmente é coordenadora de projetos de conservação da ONG: Associação Guajiru: Ciência – Educação – Meio Ambiente.